Você já ouviu alguém dizer: “Ah, eu sou tão distraído, devo ter TDAH!”? Ou talvez tenha conhecido uma criança que foi rotulada de “preguiçosa”, “desobediente” ou “agitada demais”. Essas frases, tão comuns, refletem a falta de compreensão sobre um transtorno complexo, real e muitas vezes invisível: o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH.
Apesar de ser amplamente discutido, o TDAH ainda é cercado de preconceitos e informações erradas. Neste post, vamos entender o que realmente é o TDAH, como ele afeta crianças, adolescentes e adultos, e por que é tão importante falar sobre isso com seriedade.
O que é o TDAH, afinal?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida. Ele afeta diretamente funções executivas do cérebro, como atenção, memória de trabalho, organização, autocontrole e planejamento.
O TDAH não é “falta de educação”, “preguiça” ou “birra”. Ele tem base neurológica comprovada e se divide em três principais apresentações:
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Predominantemente desatento – quando a dificuldade principal é manter a atenção, sendo comum perder objetos, esquecer compromissos e ter problemas para seguir instruções.
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Predominantemente hiperativo/impulsivo – quando a inquietação e a impulsividade são mais evidentes.
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Combinado – quando há sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade/impulsividade.
Sinais e sintomas: muito além do que se vê
O TDAH não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Em crianças, ele pode ser notado na escola: dificuldade de concentração nas aulas, esquecer o que foi pedido, interromper colegas ou não conseguir esperar a sua vez. Mas nem sempre é tão visível. Muitas meninas, por exemplo, têm o tipo desatento e acabam passando despercebidas, pois não são hiperativas. Já os adultos podem apresentar sintomas como:
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Dificuldade para organizar tarefas e cumprir prazos;
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Esquecimentos frequentes;
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Sensação constante de inquietação;
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Troca de empregos com frequência;
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Impulsividade em decisões financeiras, relacionamentos ou falas.
Esses sintomas afetam diretamente a qualidade de vida, produtividade e autoestima. Muitos adultos passam a vida sem diagnóstico, apenas achando que “são ruins em tudo” ou que “nunca conseguem focar”.
Diagnóstico: por que não é tão simples?
Diferente do que muitos pensam, não é possível “fazer um teste online e descobrir se você tem TDAH”. O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde qualificado – geralmente um psiquiatra ou neurologista – com base em entrevistas clínicas, histórico do paciente, relatos escolares (no caso de crianças) e, às vezes, questionários específicos aplicados à família e professores.
Também é fundamental descartar outras condições que podem parecer TDAH, como ansiedade, depressão, transtornos do sono, dificuldades auditivas ou visuais. É um processo cuidadoso e sério.
TDAH em adultos: sim, ele continua!
Um dos maiores mitos sobre o TDAH é que ele “passa com o tempo”. A verdade é que, em muitos casos, os sintomas persistem na vida adulta – embora possam se manifestar de forma diferente. A hiperatividade, por exemplo, pode se transformar em inquietação interna, agitação mental, dificuldade para relaxar.
Adultos com TDAH não diagnosticado costumam relatar uma vida marcada por frustrações, relacionamentos difíceis, baixa autoestima e sensação constante de estar “atrasado” em tudo. Com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, no entanto, essa realidade pode mudar drasticamente.
Tratamento: é só tomar remédio?
Não. O tratamento do TDAH é multifacetado. Embora os medicamentos estimulantes (como metilfenidato ou lisdexanfetamina) sejam bastante eficazes para muitos casos, eles não são a única solução. O plano de tratamento costuma incluir:
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Psicoterapia – principalmente a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a pessoa a lidar com os desafios diários e desenvolver estratégias de organização e controle emocional.
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Psicoeducação – entender o transtorno é essencial. Quando a pessoa entende o que acontece com ela, deixa de se culpar tanto e passa a agir com mais consciência.
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Ajustes no ambiente escolar ou profissional – como uso de agendas, prazos fracionados ou locais mais silenciosos para estudo e trabalho.
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Apoio familiar – pais, cônjuges e colegas também precisam entender o TDAH para poder oferecer suporte adequado.
O impacto do preconceito e da desinformação
Infelizmente, o TDAH ainda é alvo de muito preconceito. Há quem diga que é “modinha”, que é “desculpa pra mau comportamento” ou que “todo mundo tem um pouco disso”. Essas falas não apenas desinformam, como invalidam a dor real de quem convive com o transtorno.
A banalização do diagnóstico também é um problema sério. Diagnosticar TDAH exige critério. Por outro lado, subdiagnosticar é igualmente perigoso: muitas crianças são rotuladas como desobedientes ou “difíceis” quando, na verdade, precisam de ajuda.
Por que precisamos falar mais sobre TDAH
Falar sobre TDAH com responsabilidade é um passo importante para construir uma sociedade mais empática, inclusiva e informada. Ao compreender que se trata de um transtorno real, com causas neurológicas e tratamento eficaz, podemos abandonar os julgamentos e abraçar o acolhimento.
Se você se identificou com os sintomas mencionados aqui, procure um profissional. O autoconhecimento é libertador. O diagnóstico não é uma sentença, é o começo de uma vida mais leve, com ferramentas adequadas para lidar com os desafios.
O TDAH é um transtorno sério, mas tratável. Com informação, apoio e acompanhamento, é possível transformar vidas. É hora de parar de reduzir o TDAH à ideia de “pessoas distraídas” e começar a vê-lo como ele é: um desafio real, que merece respeito, compreensão e tratamento adequado.
Você conhece alguém com TDAH? Ou você mesmo vive essa realidade? Compartilhe este texto. Informação salva vidas e também autoestima.