Sutura em Enfermagem

No universo da enfermagem, a habilidade de realizar procedimentos técnicos com precisão, conhecimento e responsabilidade é um diferencial crucial. Dentre esses procedimentos, a sutura tem se tornado cada vez mais presente na atuação de enfermeiros, especialmente em contextos de urgência e emergência, atenção básica e áreas remotas, onde o profissional de enfermagem pode ser o primeiro (ou único) responsável pelo atendimento inicial.

Neste artigo, vamos explorar o que é sutura na enfermagem, em quais situações o enfermeiro pode realizar esse procedimento, os tipos mais comuns de sutura, os materiais utilizados, cuidados pós-procedimento e os desafios éticos e legais que envolvem essa prática.

O que é sutura?

A sutura é o procedimento cirúrgico de aproximação das bordas de um ferimento utilizando fios específicos, com o objetivo de promover a cicatrização e evitar infecções. Ela pode ser superficial ou profunda, dependendo da extensão e da localização da lesão. A técnica é amplamente utilizada em cortes, lacerações e feridas abertas que não cicatrizariam adequadamente sozinhas.


A sutura é atribuição do enfermeiro?

A possibilidade de o enfermeiro realizar suturas é um tema que ainda gera discussões no meio da saúde. Segundo a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem (Lei nº 7.498/86) e o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, o enfermeiro pode realizar procedimentos invasivos desde que esteja tecnicamente capacitado e respaldado por protocolos institucionais, supervisão médica (em alguns casos), ou em situações emergenciais onde sua ação imediata pode salvar uma vida ou evitar agravamentos.

Na prática, muitos enfermeiros capacitados e com especializações específicas em áreas como enfermagem em urgência e emergência, enfermagem do trabalho ou atenção primária, realizam suturas simples, principalmente em locais onde não há médico disponível de forma contínua.

Entretanto, é essencial que esse procedimento esteja previsto em protocolo institucional, com respaldo jurídico e de responsabilidade técnica, para que o enfermeiro atue com segurança legal e profissional.

Capacitação técnica: o primeiro passo

Antes de pensar em realizar suturas, o enfermeiro precisa buscar capacitação técnica. Cursos de atualização, capacitações específicas e treinamentos práticos são indispensáveis para aprender a:

  • Identificar os tipos de feridas e decidir se são ou não suturáveis;

  • Realizar uma correta assepsia do local;

  • Escolher o tipo adequado de fio e técnica de sutura;

  • Utilizar instrumentais cirúrgicos como porta-agulhas, pinças, tesouras e afastadores;

  • Reconhecer sinais de infecção ou complicações;

  • Prestar orientações ao paciente sobre os cuidados pós-sutura.

Além da prática técnica, é necessário desenvolver habilidades de julgamento clínico, tomada de decisão rápida e comunicação com a equipe multiprofissional.

Tipos de sutura mais comuns

Na enfermagem, os tipos mais comuns de sutura utilizados são:

  • Sutura simples interrompida: Uma das mais básicas e utilizadas. Ideal para feridas lineares e com pouca tensão.

  • Sutura contínua: Indicada para feridas longas, pois é mais rápida e distribui melhor a tensão.

  • Sutura intradérmica: Utilizada principalmente por motivos estéticos, com pontos não visíveis externamente.

  • Sutura em colchoeiro: Usada para feridas que exigem maior aproximação das bordas ou onde há tensão elevada.

Cada tipo tem sua indicação específica, e o conhecimento técnico do profissional é crucial para a escolha da técnica adequada.

Materiais utilizados na sutura

O enfermeiro deve conhecer e manusear corretamente os principais materiais envolvidos no procedimento de sutura:

  • Fios cirúrgicos: Podem ser absorvíveis (como catgut e vicryl) ou não absorvíveis (como nylon ou prolene);

  • Agulhas: Variam em formato (triangular, cilíndrica, cortante) e tamanho, dependendo da área a ser suturada;

  • Porta-agulhas: Instrumento essencial para manipular a agulha com precisão;

  • Pinça anatômica e pinça dente de rato: Usadas para manipular tecidos;

  • Tesoura cirúrgica: Para corte dos fios e tecidos, se necessário;

  • Soluções antissépticas: Clorexidina ou PVPI para higienização da ferida.

Cuidados pós-procedimento

Após a sutura, o enfermeiro deve registrar adequadamente o procedimento no prontuário, especificando o tipo de ferida, técnica utilizada, número de pontos e orientações fornecidas ao paciente. Além disso, é importante:

  • Realizar curativos com cobertura estéril;

  • Orientar o paciente sobre sinais de infecção (vermelhidão, calor, dor intensa, secreção purulenta);

  • Marcar retorno para avaliação e possível retirada dos pontos (em média entre 7 e 14 dias, dependendo da região suturada).

Aspectos éticos e legais

Como mencionado anteriormente, o enfermeiro precisa garantir que o procedimento de sutura esteja previsto em protocolos da instituição e que ele esteja capacitado para realizá-lo. Realizar suturas fora do escopo legal pode gerar penalidades éticas e legais, inclusive processo por exercício ilegal de medicina.

Outro ponto importante é o consentimento do paciente: sempre que possível, deve-se explicar o procedimento e solicitar que ele assine um termo consentindo a intervenção, mesmo que breve.

A sutura é uma habilidade técnica valiosa e cada vez mais relevante na prática da enfermagem, especialmente em contextos de emergência, atenção primária e áreas remotas. Com a devida capacitação, respaldo legal e ética profissional, o enfermeiro pode contribuir significativamente para o atendimento rápido e eficaz de feridas, promovendo a cicatrização adequada, prevenindo infecções e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

A valorização da enfermagem passa também pelo reconhecimento da sua autonomia técnica e da ampliação segura de seu escopo de atuação. Por isso, investir em capacitação e conhecimento é o melhor caminho para um cuidado mais completo, humanizado e eficiente.

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