A hipertensão arterial é um problema de saúde amplamente conhecido e discutido. No entanto, existe uma forma menos comentada, mas igualmente perigosa: a hipertensão noturna. Trata-se de uma elevação anormal da pressão arterial durante o período do sono, um fenômeno que pode passar despercebido por anos, mas que aumenta consideravelmente o risco de doenças cardiovasculares graves, como infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
O que é hipertensão noturna?
Normalmente, a pressão arterial de uma pessoa saudável deve diminuir durante a noite, em torno de 10% a 20% em relação aos níveis diurnos. Esse fenômeno é conhecido como “queda noturna” ou “dipping”. Ele acontece porque o corpo está em repouso, o metabolismo desacelera, e o sistema nervoso simpático, responsável pelo estado de alerta reduz sua atividade.
Na hipertensão noturna, essa queda não acontece. Em alguns casos, a pressão se mantém nos mesmos níveis do dia, e em outros, ela até aumenta. Isso é chamado de “non-dipper” (não mergulhador) ou “riser” (ascendente). Essas pessoas estão em maior risco de sofrer eventos cardiovasculares, mesmo que sua pressão esteja aparentemente controlada durante o dia.
Causas mais comuns da hipertensão noturna
A hipertensão noturna pode ter diversas causas, e algumas são bem conhecidas na prática clínica:
-
Apneia obstrutiva do sono (AOS): Essa condição causa interrupções na respiração durante o sono, levando a microdespertares e alterações do ritmo cardíaco. É uma das principais causas de hipertensão noturna.
-
Doenças renais crônicas: Os rins têm papel central na regulação da pressão arterial. Quando eles não funcionam bem, é comum ocorrer aumento da pressão à noite.
-
Uso inadequado de medicamentos anti-hipertensivos: Se a medicação é tomada apenas pela manhã, a pressão pode estar controlada de dia e elevada à noite.
-
Estresse crônico e distúrbios emocionais: Emoções negativas persistentes podem alterar o ritmo do sistema nervoso autônomo, prejudicando a regulação da pressão durante o sono.
-
Excesso de sal na dieta e obesidade: Ambos os fatores estão associados ao aumento da pressão arterial de forma geral, inclusive à noite.
Como diagnosticar a hipertensão noturna?
A hipertensão noturna não costuma dar sintomas evidentes. Por isso, muitas vezes só é descoberta quando o paciente já sofreu algum tipo de complicação.
O principal método para diagnosticar essa condição é o monitoramento ambulatorial da pressão arterial (MAPA), que mede a pressão em intervalos regulares ao longo de 24 horas, incluindo o período do sono. Esse exame é fundamental para identificar padrões anormais, como o “non-dipper” ou “riser”.
Também é importante investigar possíveis causas associadas, como a realização de uma polissonografia em casos suspeitos de apneia do sono.
Por que a hipertensão noturna é tão perigosa?
Estudos mostram que a elevação da pressão arterial à noite aumenta significativamente o risco de eventos cardiovasculares, mesmo em pessoas cuja pressão diurna está dentro da normalidade. Isso acontece porque o organismo precisa desse período de “alívio” hemodinâmico para descansar. Quando a pressão se mantém elevada durante o sono:
-
O coração é forçado a trabalhar mais.
-
Há maior rigidez nos vasos sanguíneos.
-
Aumenta o risco de lesões nos órgãos-alvo, como cérebro, rins e coração.
Além disso, a hipertensão noturna tem sido associada a maior mortalidade cardiovascular e aceleração do declínio cognitivo em idosos.
Tratamento e mudanças no estilo de vida
Tratar a hipertensão noturna exige uma abordagem individualizada. O primeiro passo é identificar se a pressão está realmente se elevando à noite, o que só é possível com a realização do MAPA. A partir daí, o médico pode propor:
-
Ajustes no horário dos medicamentos anti-hipertensivos: Em muitos casos, tomar parte da medicação à noite ajuda a controlar melhor a pressão durante o sono.
-
Tratamento da apneia do sono: O uso de CPAP (ventilação por pressão positiva) em casos de apneia grave pode melhorar significativamente os níveis pressóricos noturnos.
-
Mudanças alimentares: Redução do consumo de sal, gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados, além da inclusão de frutas, vegetais e alimentos ricos em potássio.
-
Controle do peso e prática de exercícios físicos regulares: A perda de peso, mesmo que modesta, já pode melhorar consideravelmente o quadro.
-
Higiene do sono: Dormir bem, evitar telas antes de dormir, criar uma rotina noturna tranquila e evitar cafeína e álcool no fim do dia também são medidas importantes.
Um problema invisível, mas letal
A hipertensão noturna é um assassino silencioso. Por ocorrer durante o sono e não apresentar sintomas visíveis, ela frequentemente passa despercebida até que cause danos irreversíveis. Por isso, é essencial que pessoas com pressão alta, histórico de doenças cardíacas, apneia do sono ou distúrbios renais conversem com seus médicos sobre a possibilidade de monitorar a pressão durante a noite.
A boa notícia é que, com diagnóstico correto e tratamento adequado, é possível controlar a hipertensão noturna e reduzir drasticamente os riscos associados a ela.
Dormir deve ser um momento de descanso e não um período em que seu coração luta em silêncio para se manter funcionando. Fique atento. Cuidar da sua pressão enquanto dorme pode salvar sua vida.