Creatina no Cérebro: O que dizem os estudos científicos?

Por muitos anos, a creatina foi associada quase exclusivamente ao universo das academias, musculação e atletas de alta performance. No entanto, pesquisas mais recentes vêm revelando algo muito mais profundo: a creatina também tem um papel essencial na saúde e no funcionamento do cérebro.

Mas afinal, o que os estudos dizem sobre o uso de creatina para o cérebro humano? Será que suplementar com creatina pode mesmo melhorar funções cognitivas, memória ou ajudar em doenças neurológicas? Neste artigo, você vai entender o que a ciência descobriu até agora e por que talvez a creatina seja muito mais do que apenas um suplemento esportivo.


O que é a creatina e qual seu papel no corpo?

A creatina é uma substância naturalmente produzida pelo corpo, principalmente no fígado, rins e pâncreas. Ela é formada a partir de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina. Cerca de 95% da creatina do corpo está armazenada nos músculos, mas os outros 5% estão no cérebro e em outros tecidos.

Seu papel principal é fornecer energia rápida para as células, especialmente aquelas que consomem muita energia, como os músculos… e os neurônios.

Creatina no cérebro: como ela age?

O cérebro é um dos órgãos mais energicamente exigentes do corpo humano. Ele representa apenas 2% do peso corporal, mas consome cerca de 20% da energia total. A creatina, ao formar fosfocreatina, ajuda a manter os níveis de ATP (adenosina trifosfato), que é a principal moeda de energia celular. Isso é essencial para funções cognitivas como:

  • Memória de curto prazo

  • Processamento mental

  • Concentração

  • Resistência mental à fadiga

Portanto, manter bons níveis de creatina no cérebro pode ajudar na performance cognitiva, especialmente em situações de estresse, privação de sono ou esforço mental intenso.

O que dizem os estudos?

1. Melhora cognitiva em situações de privação de sono

Um estudo da Universidade de Newcastle, no Reino Unido (Rae et al., 2002), mostrou que a suplementação com creatina (5g por dia por 6 semanas) melhorou significativamente o desempenho em tarefas cognitivas após privação de sono. Participantes que tomaram creatina se saíram melhor em testes de memória e raciocínio, em comparação com os que não suplementaram.

2. Benefícios em vegetarianos e veganos

Como a creatina é encontrada principalmente em carnes e peixes, vegetarianos e veganos tendem a ter níveis mais baixos no corpo. Um estudo publicado no British Journal of Nutrition demonstrou que a suplementação em vegetarianos levou a melhoras significativas na memória de curto prazo e na inteligência fluida (capacidade de resolver problemas sem conhecimento prévio).

3. Doenças neurológicas e neurodegenerativas

A pesquisa sobre creatina no tratamento de doenças como Alzheimer, Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) ainda está em andamento, mas os resultados iniciais são promissores:

  • Parkinson: Um estudo da Neurology (2006) mostrou que a creatina pode ajudar a retardar a progressão da doença em estágios iniciais.

  • Doença de Huntington: Pesquisas sugerem que a creatina pode proteger neurônios da degeneração celular.

  • Depressão: Alguns estudos também exploram o uso da creatina como adjuvante no tratamento da depressão resistente, especialmente em mulheres.

Apesar de os resultados ainda não serem conclusivos, essas descobertas apontam para um papel neuroprotetor da creatina, algo que antes não era considerado.

Creatina e função cognitiva em pessoas saudáveis

Mesmo em indivíduos saudáveis, a creatina pode ter efeitos positivos. Pesquisas feitas com adultos jovens e idosos demonstraram que a suplementação pode melhorar:

  • Tempo de reação

  • Atenção sustentada

  • Raciocínio lógico

  • Capacidade de multitarefa

Uma meta-análise de 2021, publicada no Psychopharmacology, concluiu que a creatina pode ter um efeito modesto, mas significativo, na melhoria cognitiva geral, especialmente em condições de alta demanda mental.

Doses e segurança

A dose mais comum utilizada nos estudos é de 3 a 5 gramas por dia de creatina monohidratada. Trata-se de uma substância extensivamente estudada e considerada segura, inclusive para uso prolongado.

A creatina não causa danos renais em indivíduos saudáveis e não há evidência de efeitos colaterais significativos quando consumida nas doses recomendadas.

Quem pode se beneficiar?

A creatina pode beneficiar não apenas atletas, mas também:

  • Estudantes em período de provas ou vestibular

  • Profissionais com alta carga mental e pouco sono

  • Idosos buscando preservar a função cognitiva

  • Pessoas com histórico de doenças neurológicas na família

  • Vegetarianos e veganos com baixa ingestão natural

Se por muito tempo a creatina foi vista apenas como um “turbo para os músculos”, hoje a ciência amplia essa visão. O cérebro, nosso centro de comando, também depende de energia rápida e eficiente para funcionar bem e a creatina tem tudo a ver com isso.

Os estudos são claros: a creatina pode ser uma grande aliada da saúde cerebral, com benefícios que vão da melhora da performance mental à proteção contra doenças neurológicas. Ainda que não seja uma solução mágica, trata-se de um suplemento barato, seguro e com respaldo científico crescente.

Em outras palavras, talvez seja hora de começar a pensar na creatina não só como um suplemento esportivo, mas também como um investimento na sua mente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima