Nos últimos anos, os bebês reborn têm ganhado cada vez mais visibilidade no Brasil e no mundo. Para uns, são brinquedos realistas; para outros, verdadeiras obras de arte. Mas há também quem os veja como instrumentos terapêuticos. No campo da enfermagem, esses bonecos ultrapassam o status de simples entretenimento e adentram um território de cuidado, emoção e até de polêmica. Afinal, o que a enfermagem realmente diz sobre os bebês reborn?
O que são os bebês reborn?
Antes de mergulharmos na análise da enfermagem, é importante entender o que são esses bonecos. Os bebês reborn são bonecos hiper-realistas, produzidos artesanalmente para se parecerem com recém-nascidos reais. Cada detalhe é meticulosamente construído: veias, unhas, textura da pele, peso, até mesmo cheiro de bebê. Por esse nível de realismo, muitas pessoas criam vínculos afetivos profundos com essas figuras inanimadas.
A visão da enfermagem: além do objeto
Na área da enfermagem, especialmente no campo da saúde mental, geriatria e obstetrícia, os bebês reborn vêm sendo utilizados com uma finalidade que vai além da aparência estética: cuidado terapêutico e emocional.
1. Uso em pacientes com Alzheimer e demência
Um dos usos mais significativos dos bebês reborn ocorre no cuidado de pacientes idosos com Alzheimer ou outras formas de demência. Em muitas instituições de longa permanência e clínicas geriátricas, a enfermagem começou a usar esses bonecos como parte de uma abordagem conhecida como terapia da boneca.
O objetivo não é fazer o paciente acreditar que está cuidando de um bebê real, mas sim estimular memórias afetivas, promover o senso de responsabilidade e gerar conforto emocional. Muitos idosos demonstram uma redução na agitação, na ansiedade e até mesmo no uso de medicamentos após o contato frequente com os reborns.
Segundo profissionais de enfermagem que atuam nessa área, “o boneco pode ser um gatilho para memórias felizes, promovendo bem-estar emocional e melhorando o comportamento dos pacientes.” Há relatos de pacientes que, ao segurarem um reborn no colo, voltam a sorrir, acalmam-se, ou até se recordam de histórias do passado.
2. Apoio no luto perinatal
Outro contexto em que a enfermagem observa o valor terapêutico dos bebês reborn é no luto perinatal, ou seja, a perda de um bebê durante a gestação ou logo após o nascimento. Algumas mães encontram consolo temporário no uso de um reborn que simula o bebê que perderam.
Embora seja uma prática sensível e que exige orientação profissional rigorosa, alguns hospitais e psicólogos têm se aberto a essa abordagem com o suporte de enfermeiros especializados. Eles observam que, em certos casos, o boneco ajuda a mãe a processar o luto de forma mais gradual, permitindo uma transição emocional menos brusca.
Contudo, é essencial que isso seja feito com acompanhamento psicológico, pois há o risco de distorções emocionais se o vínculo com o reborn ultrapassar os limites do saudável. A enfermagem, nesse ponto, adota uma postura cuidadosa, buscando o equilíbrio entre o apoio emocional e o respeito às fases do luto.
3. Simulações no ensino de enfermagem
Os reborns também são utilizados em cenários simulados de ensino, principalmente em cursos técnicos e de graduação em enfermagem. Por serem muito realistas, servem como ferramentas para treinar habilidades como banho no leito, troca de fraldas, aferição de sinais vitais em neonatos, entre outros procedimentos.
Nesse contexto, a enfermagem enxerga os bonecos como recursos didáticos valiosos, que contribuem para a formação prática sem colocar em risco bebês reais. Além disso, os alunos conseguem desenvolver não apenas habilidades técnicas, mas também a empatia e o cuidado humanizado desde o início da formação.
Controvérsias e cuidados éticos
Apesar dos benefícios observados, o uso dos bebês reborn ainda é alvo de debate ético. Há quem critique seu uso terapêutico, afirmando que pode reforçar negações da realidade, especialmente em situações de luto ou doenças mentais graves. Por isso, os profissionais de enfermagem alertam para a necessidade de avaliação individualizada.
Os conselhos de enfermagem ainda não possuem normativas específicas sobre o uso de reborns, mas enfatizam que qualquer prática terapêutica que envolva vínculos emocionais profundos deve estar ancorada em princípios bioéticos, como o respeito à autonomia do paciente, o cuidado integral e a não maleficência.
Na visão da enfermagem, os bebês reborn não devem ser encarados como solução mágica ou substitutos de relações humanas reais. No entanto, quando bem utilizados, com acompanhamento profissional e objetivos terapêuticos claros, esses bonecos podem ser instrumentos poderosos no cuidado da saúde mental e emocional.
O papel da enfermagem, nesse cenário, é garantir que o uso dos reborns esteja sempre associado a práticas baseadas em evidências, sensibilidade ética e, acima de tudo, humanização do cuidado.