O Cofen é contra todos os cursos de Enfermagem EAD?

Nos últimos anos, a discussão sobre o ensino a distância (EaD) no Brasil se intensificou, especialmente quando o assunto é a formação na área da saúde. Entre as profissões mais impactadas por esse debate está a Enfermagem. Com o avanço das tecnologias educacionais e a expansão do ensino superior privado, surgiram diversas instituições oferecendo cursos de Enfermagem totalmente a distância. Diante disso, surge a dúvida: o Cofen é contra todos os cursos de Enfermagem EaD?

A resposta é direta: sim, o Cofen é contra a formação de enfermeiros por meio de cursos totalmente a distância. Essa posição, porém, não se dá por preconceito contra a modalidade EaD, mas sim por preocupações técnicas, éticas e de segurança para a população.

Por que o Cofen é contra os cursos de Enfermagem EaD?

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), órgão responsável por normatizar e fiscalizar o exercício profissional da Enfermagem no Brasil, tem se posicionado de forma clara contra a formação exclusivamente a distância de técnicos e enfermeiros. Isso está embasado em várias diretrizes e resoluções da própria autarquia, que apontam os riscos dessa modalidade para a formação prática e a segurança do cuidado prestado à população.

Entre os principais motivos apontados pelo Cofen estão:

1. Natureza prática da profissão

A Enfermagem é, essencialmente, uma profissão de contato humano, sensibilidade clínica e ação prática. Desde as técnicas básicas, como aferição de sinais vitais, até procedimentos complexos como administração de medicamentos intravenosos e atuação em situações de urgência, é indispensável a vivência presencial em ambientes de cuidado. Um curso que limita essa vivência compromete a formação do futuro profissional.

2. Qualidade da formação

O Cofen e os Conselhos Regionais têm constatado que cursos EaD frequentemente oferecem estágios mal estruturados ou até mesmo fictícios. Há denúncias de instituições que simulam atividades práticas sem oferecer real interação com pacientes ou com o ambiente hospitalar. Isso gera profissionais inseguros, despreparados e que colocam em risco a saúde da população.

3. Preocupação com a segurança dos pacientes

Enfermeiros e técnicos de Enfermagem lidam diretamente com vidas. Qualquer falha na execução de procedimentos pode causar graves consequências. Por isso, a formação precisa ser sólida, embasada na prática e na supervisão direta de professores experientes. O EaD, segundo o Cofen, não garante esse padrão.

4. Desvalorização da profissão

A proliferação de cursos EaD também levanta preocupações quanto à mercantilização do ensino. Muitas instituições priorizam o lucro em detrimento da qualidade, oferecendo mensalidades baixíssimas, mas sem investir na infraestrutura necessária. Isso, a longo prazo, pode gerar uma saturação de profissionais no mercado e contribuir para a desvalorização da Enfermagem.

O que o Cofen defende?

O Cofen não é contra o uso de tecnologias na educação. Ao contrário, reconhece a importância das ferramentas digitais como apoio ao ensino, especialmente em atividades teóricas ou de educação continuada. No entanto, para a formação inicial de enfermeiros e técnicos, o Conselho defende que:

  • A carga prática deve ser obrigatoriamente presencial;

  • As instituições devem garantir estágios supervisionados em ambientes reais;

  • A formação ética e técnica deve ser priorizada;

  • Os cursos devem ser fiscalizados de forma rigorosa pelos órgãos competentes.

Em 2023, o Cofen, juntamente com o Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (Fórum das Profissões da Saúde), emitiu uma nota conjunta reforçando que nenhuma profissão da saúde deve ser formada exclusivamente por EaD. O documento defende a criação de legislações que proíbam ou, no mínimo, restrinjam fortemente a formação totalmente a distância em cursos da área.

E os alunos já matriculados?

Uma questão delicada envolve os estudantes que já estão cursando Enfermagem EaD. Muitos foram atraídos por preços acessíveis e pela promessa de flexibilidade. O Cofen, em parceria com o Ministério Público, tem atuado para proteger esses alunos, exigindo que as instituições garantam a qualidade mínima exigida e que sejam transparentes quanto à aceitação do diploma pelos Conselhos Regionais.

O Conselho também alerta: formar-se em um curso EaD pode gerar obstáculos para o registro profissional. Em alguns estados, os Conselhos Regionais já vêm negando ou exigindo revalidação adicional para diplomas obtidos em cursos duvidosos.

A posição do Cofen é clara: a Enfermagem não pode ser ensinada a distância de forma plena. O ensino híbrido, com suporte tecnológico para disciplinas teóricas, pode ser considerado desde que respeite os limites da prática presencial. Mas cursos 100% EaD são vistos como uma ameaça à qualidade da formação e à segurança da população.

Se você pretende ingressar na área da Enfermagem, pesquise com cuidado. Verifique se o curso tem boa reputação, carga prática robusta, parcerias com hospitais e reconhecimento dos Conselhos. A saúde da população e a sua carreira dependem disso.

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